camila alba

Uma placa com os dizeres "FRUIÇÃO PÚBLICA" é posicionada no espaço museológico. Sua presença sutil ali, vestida de aviso oficial, basta para preenchê-lo por completo.

Fruição condiz ao ato de desfrutar, gozar, tirar proveito ou fazer uso de algo. Público é aquilo que pode ser acessado por todos. No âmbito da legislação urbanística, como comumente é utilizado, o conceito de Fruição Pública faz referência ao incentivo dado ao agente imobiliário para a reserva de área de uso público no interior do lote urbano privado – que deve obedecer às dimensões e características especificadas pelas leis municipais de uso e ocupação do solo. A área de fruição pública deve conter um aviso que informe a todos que tal espaço pode ser frequentado por qualquer um que assim o queira. Tal determinação infere, portanto, no entendimento jurídico do uso do espaço da cidade, complementando o arcabouço legal de fórmulas e determinações que a desenham e que delimitam a distinção entre o público e o privado. Por outro lado, a fruição estética condiz ao ato de obter prazer a partir daquilo que possui formato artístico.

Assim, o ato de fruir da cidade pode ser entendido de modo ambíguo: ao exercer o direito de fruir do espaço que é público, entende-se até onde é permitido juridicamente adentrar a propriedade privada; e, como receptor, frui-se esteticamente da arquitetura e da cidade. O primeiro é uma abstração – distancia-se do plano do real, pertence ao mundo das idéias, dependendo da ideologia para operar. O segundo é uma ação inevitável e factual – estejamos ou não conscientes dela. A instalação Fruição Pública perpassa diferentes espaços da cidade e alcança também o espaço do museu, carregando por esses lugares a dubiedade do conceito e infringindo a lei ao determinar como público espaços da esfera privada – do qual fruem diferentes corpos do modo como lhes é convencionado.